sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dívida milionária ameaça magnata da odontologia

Conhecido como Bill Gates do mundo da odontologia, o dentista angolano Paulo Malo construiu um império nos últimos  15 anos com faturamento próximo aos R$ 200 milhões ao ano. Oferecendo um suposto tratamento revolucionário  no campo do implante dentário, o negócio se espalhou em seis países e, somente no Brasil foram investidos cerca de R$ 40 milhões nas duas unidades localizadas em Campinas e São Paulo. Assim como as cifras milionárias administradas pelo mega empresário sempre impressionaram o mercado, os últimos balanços da empresa nas duas unidades, aos quais o CORREIO teve acesso, mostram que um lastro de dívidas com fornecedores, governo funcionários e imobiliárias deixam o grupo em débitos nas duas cidades até com empresas de material de limpeza.

Paulo Malo: 48 títulos protestados em Campinas



Grupo fatura cerca de R$ 200 milhões em todo o mundo.

No ano passado, para tentar administrar o montante de dívidas no Brasil, que beira os R$ 4 milhões, a empresa chegou a cogitar a apresentação de uma ação de recuperação judicial. Em Campinas, a reportagem apurou que os cartórios da cidade registram 48 títulos protestados no valor de R$ 60mil.
As certidões acusam dívidas que vão desde débitos com empresas de máquinas de café até materiais de limpeza. Quase nenhuma dívida tem sido paga pela empresa atualmente e antigos fornecedores já se recusam a vender para o megainvestidor, que entrevista recente chegou a dizer que preferia atender "um cliente que possa pagar, do que 1 milhão de pacientes que não tenham dinheiro".
A Clínica Malo Campinas tem capitar social registrado de R$ 16 milhões, mas só de aluguéis em atraso na cidade os débitos se aproximam de R$ 1,1 milhão. Desde novembro do ano passado, a clínica - localizada em um prédio de cerca de 2 mil metros quadrados em dois andares de um dos edifícios mais caros da cidade, o Trade Tower - não paga nem o condomínio e já chegou a se informada que pode ter que deixar o imóvel caso não apresente uma proposta de quitação dos débitos. A outra unidade da empresa, localizada em São Paulo, também corre o risco de fechar as portas. A imobiliária cobra cerca de R$ 600 mil em aluguéis e condomínios atrasados e ingressou na última semana com uma ação de despejo contra a empresa. Paulo Malo afirma que o grupo não corre o risco de falência, mas confirmou que terá que reestruturar as clínicas no Brasil para o modelo mais simples.
As clínicas de Malo são uma combinação de spa com clínicas odontológicas, fazendo uso de equipamentos de última geração. Na unidade de Campinas, só em maquinário, estima-se que tenham sido investidos R$ 5 milhões. Embora o empresário negue que a saúde financeira do grupo esteja comprometida, a reportagem apurou que a unidade localizada em New Jersey (EUA) também estaria passando por dificuldades de liquidez e tem precisado fechar as contas com recursos vindos da matriz em Lisboa.



Contas

O desmoronamento do negócio é apontado por auditores que examinaram as contas da empresa no Brasil como uma combinação de falhas graves nas ações de marketing, deficiências no modelo de negócios e o espírito megalomania do empresário. Funcionários próximos a ele contam que os investimentos exagerados do empresário nunca levaram em conta o mercado potencial do local onde o empreendimento ia ser implantado. Um exemplo seria o caso de Campinas. Desde 2008, quando iniciou as atividades na cidade, dos 40 consultórios disponíveis para arrendamento para dentistas, a unidade nunca operou acima de 70% de ocupação. O negócio que funciona em uma espécie de "clinica-shopping", tem um alto custo de manutenção e nunca conseguiu  custear as despesas da unidade. Todos os meses, a matriz em Lisboa precisava enviar cerca de R$ 500 mil para fechar as contas das clínicas brasileiras.
Todos os dentistas que trabalhavam para Malo em Campinas se desligaram nos últimos meses do grupo e cerca de 40 funcionários a área administrativa estão há  quase três meses sem receber e em uma situação inusitada. Sem ter o que fazer e sem atividade na unidade, ainda não tiveram um posicionamento da empresa quanto a seus futuros profissionais e tiveram que ingressar com uma ação de arresto de bens para garantir que os equipamentos na clínica possam quitar as dívidas trabalhistas.

Fachada do edifício Trade Tower, Campinas
  

- O spa do empresário, localizado no Royal Palm Plaza, em Campinas, também será fechado. A clínica com investimento de cerca de R$ 1 milhão encerrará as atividades no próximo dia 30. A assessoria de imprensa do hotel não informou se a clínica deixou dívidas, mas garantiu que a partir do dia 1 de julho uma nova empresa assumirá o negócio no resort. O complexo oferece um conjunto de tratamentos para complementação de processos de recuperação cirúrgicos.


Fonte: Correio Popular - Campinas, sexta-feira, 10 de junho de 2011
Henrique Beirangê - da agência Anhanguera

2 comentários:

Diogo Lustosa disse...

interessante !!

Anônimo disse...

é realmente uma pena, pois trabalhei na empresa,e vi até o dia que não tinham se quer o dinheiro para comprar copos descartaveis, é isso mesmo, não tinham... Hoje a clinica continua no msm local, da mesma maneira que deixaram no ultimo dia de trabalho se encontra, é uma judiação. Amei fazer parte da equipe mas infelizmente veio a falencia.